sábado, março 26, 2005
Investimentos
Este livro revolucionou a minha forma de pensar sobre investimentos, principalmente no que toca a acções. O autor -- Benhamin Graham -- foi o pioneiro, na década de 40, do paradigma de value investing. Apesar de ter sido originalmente publicado em 1973, já na sua quarta edição revista, o seu conteúdo é extremamente actual. Acresce que os capítulos são intercalados por comentários actuais (de 2003, na edição que tenho), que complementam e demonstram como as ideia de Graham continuam actuais.
Uma das ideias mais fortes do livro, a meu ver, é a afirmação que o que deve distinguir um investidor "agressivo" de um investidor "defensivo", não é tanto a propensão para correr riscos, mas sim o tempo que esse investidor esta disposto a dedicar ao estudo e acompanhamento dos seus investimentos. Não se trata de seguir o mercado dia a dia -- Graham chega a ridicularizar esta obsessão de seguir o mercado -- mas sobretudo de se ter tempo para estudar a saúde financeira dos alvos dos investimentos.
Agora com a Internet tudo isto tornou-se muito mais fácil. No site de qualquer empresa cotada na bolsa é possível descarregar os relatórios financeitos dos últimos anos. Contudo, esta tarefa é extremamente consumidora de tempo (falo por experiência própria!).
No caso das acções, por exemplo, um dos indicadores mais importantes é o Earnings Per Share (EPS) (resultado líquido por acção, em portugues). Este valor é divulgado anualmente e é calculado dividindo o resultado líquido pelo número de acções em que a empresa esta dividida. O resultado líquido corresponde a todas as vendas subtraídas de todos os custos de funcionamento, ou seja, é o lucro final obtido. A ideia do EPS é medir o valor real desse lucro, por cada acção da empresa, uma vez que uma acção representa uma fracção de posse da empresa. (se alguém conseguir obter mais de 50% das acções de uma empresa, na prática tem poder total sobre ela). Deste EPS, uma fracção fica na empresa, para ser re-investido, e o restante é dividido pelos acionistas, na forma de dividendos. O EPS representa assim a capacidade de uma empresa de gerar lucro.
Qual é a relevância deste indicador? O valor absoluto do preço de uma acção tem pouco interesse per se: podemos comparar com os maximos e mínimos históricos, com médias moveis, e todas as outras ferramentas dos especuladores bolsistas. Mas essa não é uma forma inteligente de investir -- segundo Graham, a ideia de que os especuladores bolsistas fazem fortunas na bolsa é um mito. O quociente entre o preço de uma acção e o EPS da companhia em causa (no último exercicio, ou na média dos últimos anos) corresponde a outro indicador fundamental: o PER (ou P/E, denominado Price to Earnings Ratio. Isto corresponde a quantas vezes o preço de uma acção é superior ao EPS. Por exemplo, um PER de 20 corresponde a um preço de uma acção vinte vezes superior ao EPS. Como estamos a dividir duas grandezas monetárias, o PER não tem dimensões. E por outro lado, podemos comparar PER de empresas diferentes, uma vez que factores de escala afectam o preço e o EPS de igual forma.
A filosofia de Graham é que apenas se deve comprar acções quando o seu preço for suficientemente atractivo, e vender quando o seu preço se tornar demasiado alto. Mas então o que é um preço baixo ou um preço alto? É nesta avaliação que entra o PER. Segundo Graham, nunca se deve comprar uma acção com um PER igual ou superior a 15 (quinze). Por outro lado, se o PER de uma acção subir para valores superiores a 20 ou 25, então pode ser boa altura para vender.
Tipicamente os mercados acionistas oscilam entre duas fases: a chamada bull market, onde os preços subem desmesuradamente, e a bear market que mais parece uma depressão total. Investidores menos informados (tipicamente o público em geral) tem uma perigosa tendencia natural para achar que o mercado esta interessante nas fases de bull, onde tipicamente só se torna do conhecimento geral, por sucessivas noticias na comunicação social, quando os preços já estao perigosamente altos, e desinteressam-se (vendendo) quando o mercado está deprimido.
Ora, o investidor inteligente deve fazer precisamente o contrário: quando o mercado esta deprimido é a melhor para fazer "compras", ou seja, procurar acções de boas empresas que estão a transaccionar a preços de saldo (olhando para os EPS dos últimos anos). Nas fases do mercado mais animadas, e consequentemente mais especulativas, é quando se deve pensar duas vezes se é boa ideia continuar a possuir determinadas acções, uma vez que -- como a história mostra -- as fases de bull market são sempre sempre sempre seguidas por um crash bolsista. Foi assim com a depressão da decada de 30 nos E.U.A., tal como foi com a chamada "bolha da Internet".
Conclusão: caso queira reunir dinheiro para projectos futuros, a longo prazo (seja comprar uma casa, sem ter de passar anos a pagar juros ao banco, pouco ou nada amortizando no valor emprestado, seja preparar uma reforma mais confortável financeiramente), e não lhe agrade a ideia de a inflacção ir rapando parte das suas economias, trate de estudar de uma forma séria como investir o seu dinheiro. E uma excelente forma de começar é lendo este livro!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário