Retomando a questão dos investimentos, esqueci-me de mencionar alguns pontos interessantes:
Porque razão um indicador tão fundamental como o EPS (ou o PER) são tão dificeis de encontrar? Os EPS normalmente aparecem nos relatórios financeiros, de uma forma nem sempre muito explícita. Em alguns casos meritórios, até chegam a aparecer nas páginas iniciais da secção para investidores da respectiva página da empresa. O motivo é simples: com a intenção de passar uma imagem de boa saúde financeira, nem sempre este indicador favorece essa imagem que se quer passar. Por isso é mais comum encontrar-se indicadores com nomes crípticos como EBITDA. Este indicador representa o resultado da empresa antes de serem descontados juros de empréstimos bancários, impostos, depreciação e amortizações. Ou seja, é normalmente um valor superior ao EPS, e esconde possíveis debilidades financeiras tais como dívidas elevadas, por exemplo. Este é apenas um dos muitos motivos por detraz da dificuldade em analisar a saúde financeira de empresas.
Um exemplo: no site da EDP podemos encontrar um PDF com os slides da apresentação de resultados de 2004. Nessa apresentação o EPS aparece em letras bem pequeninas no segundo slide -- 0,127€ em 2003, 0,120€ em 2004 -- mas encontramos o EBITDA por todo lado! Podemos encontrar o EBITDA de todos os componentes do grupo EDP. O EBITDA e o resultado líquido aumentam de 2003 para 2004, mas o EPS não. Porquê? Em 2004 houve uma operação de aumento de capital, através da emissao de mais de 650 milhões de acções. Ou seja, o número total de acções que constituem a EDP aumentou, o que implica que os lucros da empresa são distribuídos por mais acções. Isto explica porque é que, apesar do resultado líquido ter aumentado, o EPS desceu. Claro que este facto deve ser tomado em linha de conta ao avaliar o valor de uma acção da EDP. Aliás, o mercado por si já tratou disso, pois antes do aumento de capital a EDP rondava os 2,35€ e agora anda pelos 2,20€.
O único sitio onde se podem encontrar os EPS de empresas da Euronext Lisboa que conheco é no Painel do Investidor do Jornal de Negócios.
Contudo, avisaram-me que a informação relativa ao EPS está extremamente desactualizada...
Contudo, informação sobre cotações, mais ou menos em tempo real, abundam em todos os orgãos de comunicação social. É verdade que já esteve pior: lembro-me dos telejornais comuns com os tickers das cotações das acções, actualizadas ao minuto! Que paranoia...
Mas qual é o interesse de omitir informação essencial como o EPS, e inundar o público com informação instantânea sobre o que sobe e o que desce na bolsa? Há um motivo muito forte: marketing por parte das corretoras. Inundar o público sobre subidas e descidas induz nelas a ideia que oportunidades de ganhar dinheiro fácil estão a passar-lhe pela frente. Comprar e vender acções é um negócio extremamente lucrativo para as corretoras. Por cada transação, normalmente levam uma comissão fixa, acrescida por vezes de uma percentagem do montante envolvido.
Por exemplo, a BIGonline cobra praticamente 8€ por transacção, mais 0,1% se o montante for superior a 250000€. Ou seja, se comprarmos 1000€ de uma determinada acção, e a vendermos a seguir, o banco leva-nos 16€, ou seja 1,6% do montante inicial. Ao ponderar se o investidor em causa deve ou não vender esse lote de acções, convém não esquecer que 1.6% da eventual subida da cotação é simplesmente engolida pelo banco! Isto já para não falar no imposto do estado sobre as mais valias...
Ou seja, compra e venda de acções, independentemente de o cliente ganhar ou nao, é sempre lucrativo para o banco! Daí que na epoca da grande euforia bolsista da chamada bolha da Internet, as corretoras online tenham proliferado como cogumelos. Corretagem online, numa época em que o público e os media estavam eufóricos com o mercado de acções, era um negócio extremamente lucrativo. Claro que depois do crash, mais de metade destes sites desapareceram...
Outro exemplo: quem não reparou já como a Pararede aparece frequentemente nas listas de maiores subidas (e descidas) do dia? Para um leigo até podia parecer um título interessante, onde se pode ganhar dinheiro fácil aproveitando uma destas subidas em flecha. Contudo, se formos ao site da empresa e lermos um relatório financeiro -- por exemplo o de 2003 -- verificamos que a Pararede teve prejuizos de 43 milhões e de 16 milhões de euros, em 2002 e 2003 respectivamente. Ora, quem é que no seu juizo perfeito irá comprar acções de uma empresa nestas condições? Só mesmo para especular na bolsa...
Especular na bolsa não faz ninguém rico. Claro que há quem tenha sorte. Mas há quem tenha azar. Ou seja, é um jogo!
Mas não se deve confundir especulação com investimento. A ideia do value investing de Benjamin Graham é precisamente o contrário de especular: tomar decisões sobre compra e venda de acções devidamente fundamentadas.
sábado, março 26, 2005
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