quinta-feira, junho 07, 2007

Leituras



Ando a ler estes três livros, de uma forma mais ou menos dispersa, e com motivações diferentes. Cada um deles merece um post por si só. Contudo, vou limitar-me a dizer algumas breves palavras sobre cada um deles.

Ando a ler "Os Maias", na sequência de ter lido, com muito gosto, primeiro "O Crime do Padre Amaro", seguido pelo "A Cidade e as Serras". Para ler Eça é preciso perceber previamente algumas coisas. A primeira é que há vida para além do fio condutor da história. Há vários níveis a que é preciso estar atento, ao longo da leitura. A segunda coisa é o aprender o deleite que a leitura do texto nos oferecem. Isto requer treino: tive de fazer um esforço para parar e ler devagar, sempre que me sentia tentado a ler na diagonal algum trecho aparentemente (mas só aparentemente) mais enfadonho. É agora com algum espando (e pitada de escândalo) que ouço gente afirmar que sim senhor gostam de Eça, mas as partes descritivas são enfadonhas... Nada disso! Tenho verificado que aquela sensação de que o texto está a ser vazio não é mais senão um sinal de STOP: preciso de parar e re-começar a ler devagar. Esta simples formula tem me dado acesso à beleza extraordinária que os livros de Eça oferecem (pelo menos parcialmente). Contudo, as 730 páginas que constituem a edição de "Os Maias" da editora Livros do Brasil são inescapáveis. A leitura prosegue, com regularidade, mas sempre que fecho o livro, a marca pouco ou nada avança... Bem sei que isto é enganador: não será decerto a primeira nem a última vez que, quando chegar ao fim do livro, não ficarei com aquele gosto de saber a pouco... Muito mais haveria a dizer sobre Eça: fica para um próximo post.

A leitura do "Ficções" de Jorge Luis Borges (JLB) começou como um desafio: foi-me dito que JLB era especial, estratosférico, complexo, labiríntico, etc. Na verdade nenhuma destas palavras foi usada exactamente na descrição, mas seria complicado aqui explicar. O resultado final foi que fiquei a ver JLB como um desafio irresistível. Descobri que tinha aqui em casa um livro dele, oriundo da coleção Mil Folhas que em tempos saia com o jornal Público. Comecei a ler, já com aquela estratégia de ler devagar, apreciando as palavras, esforçando-me por entender em cada momento o máximo que o texto me pode oferecer. E foi uma sensação única de encontrar algo de espetacular. JLB é fantástico. Não dispenso de pelo menos duas leituras cada conto que forma o "Ficções". Convergi para o seguinte método: uma primeira leitura, não me preocupando com as referências que desconheço, seguido por uma segunda com o auxílio de algumas ferramentas básicas: Wikipedia, dicionários de Mitologia e de Latim-Português, e o "Problemas da Filosofia" (Bertand Russel), à falta de um dicionário de filosofia. E é aqui que novas portas de abrem, e o texto se mostra mais far-reaching do que aparentava aquando da primeira leitura. Muito mais haveria a dizer sobre JLB, mas terá que ficar para um próximo post.

A leitura de "História Concisa de Portugal" não ombreia com nenhum dos livros acima referidos, mas achei interessante falar um pouco dele também. Peguei no livro porque senti necessidade de aprender sobre o contexto histórico em que os romances de Eça se passam, mitigando uma lacuna que sinto na História que aprendi no secundário. Como não quero dedicar muito tempo à leitura de História, pois pretendo apenas apanhar o essencial, este livro parece-me apropriado. Muito mais haveria a dizer sobre a História e o imenso que temos a aprender com ela: terá também que ficar para um próximo post.

1 comentário:

Anónimo disse...

Diz-se em certa parte:

"Ora n'esse tempo Jacintho concebêra uma Ideia... Este Principe concebêra a Ideia de que «o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilisado»."

Eis a tese desse texto: Jacintho é o tubo de ensaio sobre esta hipótese de caminho para a felicidade.

No entanto, vai-se sabendo pela leitura que não é esse o factor determinante. Todas as condições são dadas para que resulte um experiência idónea: Jacintho vive no centro da Civilização, Paris, tem à sua disposição os meios económicos e culturais para que seja possível comprovar a tese. Não existe outro factor de felicidade ou infelicidade na sua vida.

A antítese surge de volta às origens. De volta ao amor essencial na rudeza das serras de tormes. Joaninha.